Caro leitor, por vezes o escritor fica procurando um personagem! Alguém que seja original e chame sua atenção! Não adianta ser uma pessoa banal, com uma rotina monótona, senão você não passa do primeiro parágrafo!
Sentado aqui, em frente a tela branca, escolhi uma personagem que jamais será banal: uma primeira dama. Não leitor, nada de biográfico. Eu faço ficção! Seria uma hipotética primeira dama. Uma mulher que tenha vizinhança com o poder. Ouve segredos, presencia discussões, vê um ministro bêbado falando gracinhas para uma ministra, ouve o general peidando, sabe que o presidente odeia aquele ministro, mas tem que aguentar, porque ele controla votos de uma bancada específica… Enfim, um personagem rico!
A maioria de nossas primeiras damas foram discretas e quase invisíveis. Ficaram à sombra de seus maridos e, quando muito, envolvidas com filantropia. Mas tiveram primeiras damas interessantes. Meio rebeldes, mais bonitas que a média, intelectuais…Ou autoritárias, como a mulher do Dutra.
Teve a Nair de Tefé, uma figura extraordinária! À frente do seu tempo, cantora, atriz, pintora… É considerada a primeira cartunista mulher do mundo… Só não dá pra entender o que ela viu no Marechal Hermes!
Teve também a D. Ruth, esposa do FHC, intelectual muito respeitada e que, às vezes, eclipsava o marido no mundo acadêmico e até no político.
Ah! E a Tereza Goulart? Ela, com sua beleza e classe, fascinava a imprensa naqueles anos 60 e foi companheira de todas as horas durante o covarde golpe que o marido sofreu. Algumas foram rebeldes, como a do Collor… Outra foi recatada… Já a esposa do Dutra mandava nele e se tornou uma lenda no palácio do Catete…
Cada uma, ao seu modo, dariam ótimas personagens.
Mas o cronista precisa de ser corajoso! Por que não inventar uma primeira dama?
Ah! Uma mulher diferente!
Vamos imaginar… a primeira dama seria a esposa de um líder ridículo, personagem de comédia da tarde…
Ela seria bonita? Sim, bonita de preferência e que causasse suspiros por onde passasse, mas todos perguntariam: por que se casou com aquele imbecil?
Mas atente leitor! Ela é linda… Mas não é flor que se cheire! Dissimulada, sedutora e interesseira. Aproveita-se da parvalhice do marido para indicar ministros e até membros do STF.
Ela tem um perfil místico. Usa a religião com habilidade incrível. Poderia até ser uma sacerdote de sua seita…. Ela acaba se conectando com vários membros do governo e os controlam, sem o seu marido sequer imaginar essa possibilidade. Ele é grosseiro, machista e um pouco misógino… mas, como é muito mais velho que nossa personagem, ele não a domina, ao contrário! Ela manda nele totalmente e se diverte com suas bravatas. O idiota tem coragem de falar em discursos que sua ereção é perene; um palhaço priápico! Ela ouve, faz cara de safadinha, mas ri por dentro e sabe que a realidade é bem mais flácida…
Nossa primeira dama gosta de dinheiro, de cheques, cartões corporativos, vestidos de grife e glamour… Mas não deixa de citar o livro sagrado com uma habilidade invejável. Suas fãs, todas fiéis da mesma seita, sonham um dia poder estar ali, naquela posição de destaque… Têm uma inveja daquela mulher poderosa e a idealizam, minimizando os defeitos do palhaço de faixa.
Mas como terminaria a crônica? Talvez desse até pra virar um conto…
A primeira dama se cansa de ficar por trás do seu marido medíocre e dá um golpe? Ou então ela foge com o personal trainer para um paraíso fiscal, deixando o marido ridículo sozinho e sem chances de se perpetuar no poder?
Ah… Não sei se os leitores iriam acreditar numa personagem tão sinistra…