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Vinícius Júnior: Uma Voz Contra o Racismo?

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vinícius júnior, uma voz contra o racismo?
Imagem: Reprodução/Internet

As redes sociais – perfis verificados de famosos, de anônimos e a imprensa mundial – repercutem as ofensas racistas sofridas pelo jogador Vinícius Júnior. Os clubes de futebol do Brasil e do mundo também fazem algum tipo de manifestação repudiando o ato contra o jogador. Chefes de Governo e de Estado se manifestam. As organizações de futebol hesitaram, mas, também se posicionaram contra. Frases como: “Com o racismo não tem jogo”, serviram como campanha ostensiva e figuraram pelos estádios em camisas, faixas e outros apetrechos.

Uma onda mundial contra o racismo também ecoou em peças publicitárias de marcas importantes. Porém, essas ofensas não são novidade. Vinícius Júnior até poderia ser ‘só mais um negro’, vítima desse tipo de preconceito, não fosse a forma como vem tratando os ataques. O jogador sofre com ataques raciais desde a época em que despontou no Flamengo. A maneira como Vinicius Junior combate e se impõe é que faz diferença. E essa maneira foi construída aos poucos. Primeiro, a partir das referências e vivências familiares do pai, da mãe e do tio que o acompanhou desde o início da carreira. Em seguida, das inspirações pretas no esporte que militavam na causa, como os astros LeBron James, do basquete, e Lewis Hamilton, piloto de Fórmula-1.

O comportamento se deu de dentro para fora do jovem, que saiu do Brasil com 18 anos, em 2018. A esta altura, Vini Jr. já havia sentido na pele o racismo enquanto criança pobre que cresceu em São Gonçalo. Também já tinha sido vítima, como jogador do Flamengo, em dois jogos contra o Botafogo. Em 2017, um torcedor foi detido pela Polícia Militar no Estádio Nilton Santos, suspeito de injúrias raciais a familiares do atacante. O torcedor alvinegro fazia sinais apontando para o braço e gritava “tudo macaco”. O familiar era Ulysses Leão, um tio do atacante que já cuidava também da carreira de Vinicius. Flagrado por câmeras, o torcedor foi levado ao Juizado Especial Criminal, foi detido, mas ganhou a liberdade horas depois. O processo tramitou na Justiça, houve acareação, mas nada de sentença até hoje.

Em 2018, após expulsão no clássico, o atacante ainda com 17 anos foi alvo de xingamentos, cusparadas e gestos obscenos. Uma senhora cometeu racismo contra o atleta, chamando-o de “viado, neguinho safado”. Também não houve punição à torcedora ou ao Botafogo.

O escritor Laurentino Gomes, premiado no Brasil, em Portugal e nos Estados Unidos com a série 1808, 1822 e 1889, se dedica à trilogia de um livro intitulado “Escravidão”. O trabalho é resultado de seis anos de pesquisas, viagens por doze países e três continentes. A obra explica as raízes da escravidão e do preconceito na antiguidade e na própria África. O primeiro volume cobre um período de 250 anos desde os primeiros leilões de cativos até a morte de Zumbi dos Palmares. Os outros dois volumes são dedicados ao auge do tráfico de escravos e ao movimento abolicionista que resultou na Lei Áurea.

A escravidão tinha sido abolida nas colônias portuguesas em 1858; nos Estados Unidos, em 1865; no Suriname (colônia holandesa), em 1863; mas, no final da década de 1860, só Brasil, Cuba e Porto Rico (as duas últimas eram colônias espanholas) ainda mantinham a escravidão legalizada.

O processo estava lento, não bastava só acabar com a escravidão. Era preciso influir em hábitos e padrões comportamentais da sociedade. Mas os próprios abolicionistas brasileiros eram racistas.

José Bonifácio de Andrada e Silva, Patrono da Independência, defendia o fim da escravidão, não por ser humanitário e sim porque acreditava que o desenvolvimento do país passaria pelo crescimento da mão-de-obra livre.

José de Alencar, considerado o fundador do romance de temática nacionalista, também tinha posturas racistas. Parlamentar, ministro do império e membro do Partido Conservador era um defensor do escravismo e foi, inclusive, um dos principais adversários da Lei do Ventre Livre, contra o chefe do seu próprio partido, o Visconde do Rio Branco.

Como os abolicionistas em 1860 aplaudiam a escravidão, autoridades de agora também se omitiram. Pior: há os torcedores que fazem apologia a esses atos extremistas. Uma mancha que macula a LaLiga. Uma teoria já explicitada por Ronaldo Fenômeno: “Enquanto houver impunidade e conivência, haverá racismo”.

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