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Xote das Meninas, a Estória

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Xote das Meninas, a Estória
Imagem: Divulgação/Internet

Coluna Sorrindo o leite derramado

Mandacaru quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal que o amor já chegou no coração
Meia comprida, não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado, não quer mais vestir timão

Coroné Chico anda aperreado! Lá pelos lados da serrinha, os mandacarus estão florando! Sinal de que a estação das chuvas, esse ano, vai ser boa! E a criação vai engordar no pasto. Este ano, a asa branca não vai migrar deste sertão e o verde dos olhos da falecida Maria, vai se espalhar na plantação. Vamos ter fogueira, milho verde, muita dança e fartura! Ah, mas Chico anda agoniado! Se a finada Maria estivesse com ele… aqueles olhos verdes, aquela sabedoria… a Maria foi se embora pro céu e deixou o velho fazendeiro sozinho com as crias, nesse mundo!

Chiquim Filho já está um homem! Viçoso, cobiçado e bom na lida com o gado! O futuro da fazenda está garantido! Um macho arretado! Aí, agora vem com essa história de estudar na capital… se formar arquiteto! Oxe! Pra quê arquiteto aqui nesse sertão?   Ah, Maria! Que falta você me faz…

E a Marisol? Era uma menininha tão linda… Bom, ela continua linda (cada vez mais!)… mas tinha que adolescer? Não fica mais brincando de boneca, vive suspirando, só quer se maquiar (“no meu tempo, só quem usava batom era quenga!”) … e as roupas? Usava uns vestidinhos de chita lindos, agora é só roupa da cidade! Outro dia, disse que queria ir ao shopping da capital, comprar umas roupas! Vejam só…

O coração do velho coronel está desassossegado. A vida que ele sonhou para os filhos era outra! O filho à frente da fazenda, a menina casando com um filho de fazendeiro, de preferência o filho do Coroné Astolfo, que é vizinho de cerca… o sono na rede, depois do almoço é agitado, nem parece que tomou uma aguardente depois da refeição.

Chico Filho veio à cidade comprar arame… “Semana que vem, vamos ter que reforçar a cerca!”, lhe disse o pai. Veio logo ao comércio de seu Zequinha, onde a fazenda tem conta muito antes dele nascer. Mas agora, a loja tinha outro atrativo: Olívio, filho de Zequinha e afilhado do Coroné Chico, seu pai! Eles cresceram juntos e estão terminando o ensino médio. São o exemplo de machos alfa da nova geração. Um, filho do grande produtor rural e cacique político da região, o outro, herdeiro do grande empresário, um dos maiores empregadores do comércio local, que fornece insumos para todos os fazendeiros da região. O que ninguém sabe é que eles estão apaixonados, e planejam fazer faculdade na capital para viver o seu amor longe dos olhos preconceituosos das famílias.

Marisol adora seu velho pai! O velho coronel a criou sozinho, com a ajuda da tia solteirona e das criadas da fazenda. Ele é só carinho e cuidados… mas sufoca tanto! Para o pai, Marisol nunca passaria dos oito anos! Seria uma eterna criança! No dia que ela menstruou, Chico ficou amuado e irritadiço por uma semana! Agora, com a história do irmão querer estudar na capital, o humor do velho piorou de novo! A adolescente está achando ótimo! Primeiro porque o pai vai se esquecer um pouco dela… depois porque, com Chico Filho indo pra capital, ela vai poder passear no shopping várias vezes! A menina acha engraçada essa necessidade de o irmão esconder seu amor pelo Olívio! Eles pensam que ninguém sabe, mas todas as meninas da cidade sabem que os dois “não gostam da fruta”! E tudo bem pra Marisol! Ela quer que o irmão seja feliz… mas talvez seja melhor ele viver seu amor longe do preconceito dessa terra!

Para surpresa de Marisol, o pai a leva ao médico, afinal, ela “está muito esquisita!”.

Para contrariedade do genitor, o Doutor nem a examinou, pois a conhece desde que nasceu… Chamou Chico de lado e lhe disse em surdina: “Oxe, Coroné Francisco, está tudo bem com nossa Marisol, que tem os olhos da mãe! O mal é da idade e, pra essa menina, não há um só remédio em toda medicina!”. O velho fazendeiro não sabia se ficava feliz ou triste com o veredicto do esculápio, na verdade, não conseguiu perceber se, naquele diagnóstico, havia sarcasmo ou verdade.

Voltando para casa, dirigindo sua caminhonete poderosa, Coroné Chico sentia o coração apertado. Ao seu lado, a menina pensava: “Será que ele vai ficar muito zangado quando eu contar que estou apaixonada pelo Tuquinha, filho do capataz da fazenda e afilhado dele?”.

Mal sabe o velho Coroné que não dá para planejar a vida dos filhos e o amor… Ah, o amor nunca muda! É tempestade que chega sem avisar e bonança na cama e no coração… Será que ele não se lembra de como roubou Maria da casa do sogro?

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