Em 1944, quase ao final da Segunda Grande Guerra Mundial, um jovem militar japonês chamado Hiroo Onoda, foi designado, junto com outros companheiros de farda, para uma missão de combate em Lubang, uma minúscula ilha nas Filipinas.
Após ter falhado em sua missão, Onoda se escondeu nas matas e montanhas da ilha. Meses depois o Japão se rendeu aos países aliados comandados pelos Estados Unidos e a guerra chegou ao fim em 8 de maio de 1945.
Mas o soldado Onoda, que ainda vivia foragido e escondido na selva, não tomou conhecimento e continuava a acreditar que a guerra seguia seu curso. De nada adiantaram os milhares de panfletos escritos em todos os idiomas, lançados de aviões sobre as matas, campos, montanhas e vilarejos afirmando que a guerra havia chegado ao fim.
Onoda pegou vários destes panfletos, contudo, por medo e desconfiança, não acreditava no fim do conflito. E assim viveu nas matas da pequena ilha, comendo qualquer coisa que encontrava para sobreviver.
O drama de Onoda só chegou ao fim 30 anos depois, em 1974, quando foi localizado por um rico empresário japonês que o convenceu, com extrema dificuldade, do fim do conflito e o ajudou a voltar para casa.
Onoda foi vítima de um distúrbio conhecido como “Dissonância Cognitiva”, no qual um indivíduo ou um grupo de indivíduos refuta a realidade de forma contundente e cria teorias e suposições irreais que o mantém num perigoso e lamentável universo paralelo, onde julgam que tudo e todos que não coadunam com suas ideias e teorias são inimigos e traidores.
Baseado em todo tipo de ilações fantasiosas, julgam ser vítimas do estado, da imprensa, de autoridades e até mesmo de seus familiares.
A “Dissonância Cognitiva” assume forte ação sobre indivíduos com pouca formação educacional, cultural e reflexiva.
O Brasil, nos últimos dias, tem presenciado hordas de “Onodas” que seguem numa espécie de “bolha de maluquice”, alimentados por fake news e teorias da conspiração recebidas e repassadas aos seus pares, quase que exclusivamente pelo whatsapp, onde um discurso de fraude nas eleições presidenciais dá a tônica de um protesto sem nexo para a grande maioria do povo brasileiro.
Hordas de “zumbis vestidos de verde e amarelo” se ajuntam ao redor de quartéis militares clamando por um socorro, absolutamente inconstitucional, de uma Intervenção Militar para por fim ao que consideram uma fraude: a eleição democrática de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Os “Onodas Brasileiros” seguem na sua insana “Dissonância Cognitiva”, não acreditando em nenhum documento, laudo, relatório ou nota oficial que se oponha ao que eles acreditam: houve uma fraude eleitoral! Ainda que não saibam sequer definir uma única argumentação lógica para tal questionamento.
Nada os convence! Absolutamente nada!
Sim! Os “Patriotários”, como vêm sendo chamados os membros desse movimento surreal, estão doentes! Precisam de orientação psicológica! Mas, como renegam qualquer forma de retorno à realidade, seguem refutando, com veemência, qualquer tipo de ajuda que não seja o apoio incondicional à sua causa doentia.
Como o efeito de toda anestesia passa, assim seguiremos ainda por um bom tempo no Brasil. É, contudo, urgente a punição aos que se utilizam das redes digitais para espalhar a desinformação, a mentira e o caos.
Nada como uma boa multa nesses difusores da desinformação e do ódio, bem como seu banimento das redes sociais, para que a reconstrução do Estado Democrático de Direito possa se efetivar o quanto antes.
Difícil mesmo vai ser convencer o restante do povo brasileiro a usar uma camisa verde e amarela durante a Copa do Mundo, que se inicia daqui a uma semana, sem correr o risco de pensar que possam ser confundidos com um dos “Patriotários” abilolados!